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O Céu de Abraão

 

Assim o denominava o povo, em tempos passados, pela amenidade do clima que aqui se desfrutava. Alguns, ainda hoje, assim se referem a este lugar magnífico da Engrade, na freguesia da Piedade,  pequeno recanto, outrora célebre pelo vinho Verdelho que aqui se colhia e que quase desapareceu, com a doença das vinhas ou peste da vinha, como se passou a  designar a época de 1852.

O verdelho aqui produzido era de excepcional qualidade. Há, precisamente, setenta anos que por aqui ando, e ainda cheguei a assistir à vindima das poucas parreiras que resistiram ao flagelo e que acabaram por desaparecer com o decorrer dos anos. Mas o terreno ficou. E, hoje, não passa, praticamente, de uma extensa mata de arvoredo selvagem sem qualquer utilidade. A casa onde me encontro possui um balcão ou varanda em toda a sua extensão voltado a nascente e com um belíssimo panorama em frente: o mar imenso e ao fundo, lá longe, a ilha Terceira e mais perto a ilha de S. Jorge. Um regalo para as tardes de verão. Hoje pelo bardo enorme que na frente deixaram crescer, abandonando a vinha, nada se vislumbra a não ser uma pequena nesga de mar, a Norte, na frente da Calheta de São Jorge. E é só...

Todavia a Engrade tem o mérito de ser uma excelente estância de veraneio. Da meia dúzia de adegas que conheci, a Engrade é, hoje, um subúrbio da Piedade, povoado de excelentes vivendas, onde já há quem o habite todo o ano, pois as facilidades de comunicação que existem permitem estar no centro da freguesia em cinco minutos. O transito é imenso e quase  todos os habitantes da próspera freguesia possuem transporte automóvel. Desapareceram os tradicionais carros de bois e os cavalos e asininos de serviço. Uma modernização aceitável e assaz louvável.

De registar, plausivelmente, que neste lugar está em adiantada construção uma pequena ermida dedicada ao Beato João Paulo II.

Há dias, precisamente no dia 8 do corrente, a paróquia celebrou a festa da Padroeira. Outrora, era uma solenidade para a qual o respectivo pároco convidava diversos sacerdotes da ilha e alguns músicos da capela da Matriz das Lajes, que vinham auxiliar a capela local. Lembro-me de a esta pertencerem o Tomé Freitas, o José Laranjeira e outros mais cujos nomes não recordo agora. A organista era uma senhora de cá que havia estudado piano nas Lajes. Mas o órgão, um dia, desapareceu, por alegado estado de degradação.

Presentemente, a festa não teve sacerdotes estranhos, porque no concelho, ou na antiga ouvidoria não existem. O único que agora reside na zona pastoral - pois já desapareceram as seculares ouvidorias - é o que está em serviço nas paróquias da Ponta, como antigamente era conhecida esta zona da Ilha.

A Festa de Nossa Senhora da Piedade não deixou, porém, de ter larga assistência e brilhantismo.

Uma nota positiva e os parabéns para o respectivo vigário e seus paroquianos.  E este merecido registo inclui, de modo especial, todos os que contribuíram com as suas oferendas para as despesas da solenidade.

Contavam-se mais de cinquenta ofertas, a quase totalidade em massa sovada (meninos, cabeças, braços, mãos e pernas...) conforme as promessas feitas e agora cumpridas. Quem não teve  promessas levou os produtos da terra...  Registo o facto, com agrado, e com louvores merecidos aos paroquianos da Piedade.

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